Hiroxima e Nagasaki<br>nunca mais!
A 6 e 9 de Agosto de 1945, os EUA lançaram as bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki. Mataram instantaneamente mais de 200 mil civis e muitos milhares morreram das consequências da radiação, que deixou mazelas nas gerações vindouras. Um crime que fica na história como um dos mais bárbaros e odiosos actos de agressão contra populações civis, que nenhuma consideração de ordem militar poderia justificar.
As bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki serviram para afirmar a hegemonia militar dos EUA
Um crime que os EUA procuraram justificar como sendo necessário para derrotar o Japão – país que em Agosto de 1945 já se encontrava à beira da derrota – e como alternativa para a invasão terrestre que significaria a perda de milhares de vidas de soldados norte-americanos. Assim se massacram centenas de milhares de pessoas, um crime que até hoje permanece impune.
Na verdade, as bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki serviram para afirmar a hegemonia militar dos EUA, pela detenção do monopólio da arma nuclear, perante o mundo e, em particular, perante a União Soviética.
Preocupado com uma nova ordem mundial de sentido progressista, saída da Segunda Guerra Mundial, o imperialismo procurou desta forma reafirmar o seu poderio, pela chantagem e ameaça nuclear nas relações internacionais e pelo medo. Os avanços dos processos de libertação, o prestígio e autoridade ganhos pela União Soviética pelo seu decisivo papel na derrota do nazi-fascismo, a resistência antifascista com ampla participação das massas e com grande influência dos comunistas, a vontade popular de justiça e progresso social, eram factores determinantes que levariam e levaram a profundas transformações democráticas e antimonopolistas. Avanços na emancipação social e nacional que era necessário conter. Com as bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki os EUA inauguram a «guerra fria».
Recorde-se que três meses antes, a 9 de Maio de 1945, na sequência da entrada do Exército Vermelho em Berlim, a Alemanha nazi havia assinado a sua rendição incondicional, marcando o fim da mais hedionda guerra de sempre que fez 60 milhões de mortos.
Após tantos anos de guerra, a Humanidade começou a aspirar a tempos de Paz, de vida e de esperança. A derrota do nazi-fascismo e também do militarismo japonês teve consequências profundas no curso da história. Saíram fortalecidas as forças que defenderam a paz, a democracia, a autodeterminação dos povos e o socialismo. Pelo contrário, o imperialismo saiu enfraquecido.
Carta das Nações Unidas
Apesar da guerra ainda decorrer no Extremo Oriente, na Europa começou-se a reconstruir física, política, económica e socialmente vilas, cidades e países inteiros. Da vitória sobre o nazi-fascismo cresceu a vontade e a certeza, não só nos homens e mulheres que viveram e combateram nesta guerra mas em todos os amantes da paz e da liberdade, de que jamais poderiam deixar que tal barbárie se repetisse.
Desse ímpeto e vontade, e do momento que se vivia por todo o mundo, nasceu o texto da Carta das Nações Unidas, assinada por 51 países a 26 de Junho de 1945. Há 70 anos 51 nações comprometeram-se com o caminho da resolução pacífica de conflitos, da defesa da paz, do respeito pela soberania e igualdade entre estados (independentemente da sua dimensão), da autodeterminação dos povos e do estímulo ao progresso social. As grandes potências imperialistas que foram forçadas a assiná-la graças a uma conjuntura internacional que lhes era desfavorável, não tardaram em desrespeitar essa Carta.
Cria-se a NATO em 1949 sob a estrita alçada do imperialismo norte-americano, movido pela vontade de impedir qualquer transformação de carácter progressista, dividir profundamente a Europa e combater a União Soviética e restantes países socialistas do Leste Europeu. Intensifica-se a corrida ao armamento,desencadeiam-se as guerras contra os povos da Coreia e do Vietname, exerce-se uma brutal repressão sobre os povos em luta pela sua libertação do colonialismo.
Não obstante os esforços do imperialismo, os avanços progressistas na Europa e as forças libertadoras na Ásia e em África não foram travados. Na Europa, realizam-se revoluções populares democráticas que no seu processo de desenvolvimento se transformaram em revoluções socialistas, como na Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Jugoslávia, Polónia, Roménia e na Alemanha de Leste, apesar da divisão e ingerência imposta pelo imperialismo, o povo alemão lança-se na edificação de uma nova sociedade. Na Ásia a luta revolucionária de libertação nacional e social leva a edificação do socialismo na China, na Coreia e no Vietname. Aprofunda-se a crise no sistema colonial do imperialismo, as lutas de libertação nacional levam à conquista da independência dos povos da Índia, da Indonésia, da Birmânia, da Síria, do Líbano e de uma série de outros povos. Alastra-se por toda a África e Ásia o ímpeto da emancipação social e nacional levando à criação de fortes movimentos de libertação que mais tarde alcançaram a independência.
Mas o desaparecimento da União Soviética e do campo socialista na Europa representou um novo fôlego ao imperialismo, para levar a cabo o seu objectivo maior de travar e fazer retroceder os avanços progressistas dos trabalhadores e dos povos, e uma maior instabilidade e insegurança na situação internacional. Reforça-se a NATO, subalterniza-se e instrumentaliza-se a Organização das Nações Unidas e a guerra volta ao seio da Europa. Da dita «ameaça comunista» à dita «defesa da democracia», da denominada «intervenção humanitária» à dita «luta ao terrorismo», é extenso o rol de pretextos que ao longo do tempo se sucederam para justificar o papel e acção belicistas dos EUA e da NATO e as guerras que proliferam desde os anos 90.
Agressividade crescente do imperialismo
70 anos volvidos do fim da Segunda Guerra Mundial, a par da ofensiva exploradora do grande capital, de novo o imperialismo intensifica o militarismo, a corrida ao armamento e as guerras de agressão e ocupação, com que procuram fazer face à crise estrutural do capitalismo, que se agudiza nos EUA, na UE e no Japão, seus principais centros.
O mundo está mais perigoso e instável. Os objectivos de desestabilização e de destruição de países, para pôr a mão nas suas riquezas, como no Afeganistão, na Líbia, no Iraque, na Síria, no Iémen e toda a desestabilização do Médio Oriente, agora a pretexto do combate ao «estado islâmico»; a ingerência do imperialismo na América Latina, procurando pôr termo aos processos de transformação social progressistas na Venezuela, Bolívia, Equador, mas também noutros países, como no Brasil; o ressurgimento do fascismo na Europa apoiado pelos EUA e UE no caso do golpe de Fevereiro de 2014 na Ucrânia, mostrando a sua face mais negra com a violência e a guerra; a tensão e confronto crescente contra a Federação Russa; a ingerência na política interna de países como a Grécia que visam impor aos povos a continuação da exploração, do empobrecimento e da submissão; a tensão eminente no Pacífico; a corrida aos armamentos e da instalação de novos sistemas de mísseis dos EUA; a proliferação das bases militares estrangeiras em pontos geoestratégicos – são expressão da crescente agressividade do imperialismo.
Muitos são os exemplos e os sinais de que o imperialismo se prepara para qualquer circunstância ou processo que ameace pôr fim à ordem hegemónica ditada pelo imperialismo norte-americano e que as contradições do capitalismo são muitas e perigosas para a vida da Humanidade. Veja-se como, no ano em que se assinala os 70 anos do lançamento das bombas sobre Hiroxima e Nagasaki e o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão, país que rejeitou a utilização das suas forças militares fora das suas fronteiras, após a guerra, por força dos horrores vividos pelo seu povo, alterou recentemente a sua Constituição de forma a que possa pôr o seu poderio militar ao serviço do imperialismo e assim intervir com tropas no exterior.
Em suma, os EUA com os seus aliados, criando e promovendo a generalização de focos de tensão e de desestabilização em praticamente todas as regiões do mundo, fomentam a agressão e lançam a guerra contra todos aqueles que, defendendo a sua soberania e independência nacional, resistem às pretensões de imposição do seu domínio mundial.
Luta pela paz continua actual
A luta pela paz e o movimento da paz surgiu com grande fôlego no final da Segunda Guerra Mundial. Resistentes antifascistas cedo ergueram-se na denúncia e combate à violência da guerra e aos seus horrores. Com a vitória sobre o nazi-fascismo e os avanços libertadores, os povos levantaram a bandeira da paz como construtora do progresso e emancipação social e nacional.
Da vontade e da necessidade, tendo em conta o perigo de que a história se repetisse, nasceu de um amplo conjunto de estruturas e individualidades, o movimento mundial da paz, que teve expressão em países de todos os continentes, criando-se uma vasta frente de luta pela Paz, o desarmamento e a soberania, contra a guerra, o fascismo, o colonialismo e qualquer outra forma de opressão dos povos. O Conselho Mundial da Paz, criado entre 1949 e 1950, lança o Apelo de Estocolmo em Março de 1950, que recolheu centenas de milhões de assinaturas contra as armas nucleares em todo mundo, incluindo em Portugal. A determinação dos povos de todo mundo foi fundamental para que o horror de Hiroxima e Nagasaki não se repetisse. A expressão da solidariedade e cooperação entre os povos alargou-se intensamente. Assistiu-se em todo o lado a grandes movimentações contra as guerras na Coreia e no Vietname, contra a ocupação da Palestina, contra o regime do apartheid na África do Sul, entre outros exemplos.
Assinale-se que Portugal e o povo português nunca foram excepção. Mesmo sob o jugo da ditadura fascista, em várias acções legais e semiclandestinas, os partidários da paz resistiam e denunciavam as objectivos e as consequências da guerra, principalmente no caso da guerra colonial. Veio a Revolução de Abril e com ela a mais progressista Constituição na Europa capitalista, que no seu artigo 7.º consagra os ideais do desarmamento, da paz, da amizade e cooperação entre os povos.
Hoje, em tempos em que o mundo segue um curso tendencialmente menos democrático e mais sangrento, à custa do aprofundamento das trágicas consequências da ofensiva do imperialismo, a luta pela paz continua mais necessária e actual que nunca – sendo urgente o reforço do movimento da paz e da solidariedade para com os povos vítimas da agressão imperialista.
Certamente, como no passado, cabe aos comunistas contribuir para unidade e mobilização de todos os antifascistas e democratas, de todos os amantes da paz, para luta contra a ameaça do fascismo, contra o militarismo, contra a ingerência e a guerra imperialistas e pela paz, pelo desarmamento – em particular, pelo desarmamento nuclear –, pela resolução pacífica dos conflitos, pelo fim das bases militares estrangeiras, pela dissolução dos blocos político-militares, pelo respeito da soberania e independência nacional, pelo progresso social e a amizade e a cooperação entre os povos.
Com a consciência de que a luta pela paz e contra o imperialismo é indissociável da luta pela justiça social, pelo progresso e emancipação nacional, pelo fim da exploração do homem pelo homem, pelo Socialismo.